domingo, 3 de outubro de 2010

Dicas de português

Dicas de português



Democracia na língua da meninada
Há muitos e muitos anos, nasceram duas crianças. Uma recebeu o nome de Demo. A outra se chamou Cracia. Ambas eram gregas. Na língua delas, os dois nomes têm um significado. Demo quer dizer povo. Cracia, governo. O tempo passou. Um dia, Demo encontrou Cracia. Eles sorriram um para o outro. Conversaram. Paqueraram. E não deu outra. Casaram-se. Juntos, viraram o casal Democracia.

Eles tiveram muitos filhos. Os filhos lhes deram um montão de netos. Os netos os presentearam com uma infinidade de bisnetos. A família ficou enorme. Quando todos estavam reunidos, podiam encher a catedral. O clã tinha um jeito especial de viver. Em casa, ninguém brigava. Os sabidos faziam eleição para tudo. A sobremesa seria pudim ou sorvete? Todos votavam. Ganhava a maioria. A meninada ia à piscina ou ao parque? O voto decidia.

A moda pegou. Muitos países copiaram o exemplo. Se alguém quer ser senador, deputado, vereador, prefeito, governador ou presidente, tem de participar de eleição. O povo vota. Ganha quem tiver a preferência de mais gente. É a democracia - o governo do povão. Viva!

Eleição é#
Escolha. A palavra vem do latim electione. Entre duas ou mais criaturas, escolhe-se uma. Ou, se preferir, elege-se uma.

Por falar em eleger#
Eleger é verbo generoso. Tem dois particípios. Um regular: elegido. O outro irregular: eleito. Quando usar um ou outro? O compridão acompanha os auxiliares ter e haver. O curtinho, ser e estar: Os brasileiros haviam (tinham) elegido candidato pouco conhecido. O candidato foi (está) eleito.

Bonito, não? Mas eleger vai além. Permissivo, aceita o particípio irregular com ter e estar: Os brasileiros tinham eleito candidato pouco conhecido.

Coisa de anjos
Sabia? Se depender da etimologia, candidato andaria de mãos dadas com os anjos. A latina quer dizer vestido de branco. Por quê? Na Roma dos Césares, o postulante a cargo eletivo punha roupa branca. Com a cor, que simboliza a pureza, o sabido vinculava a própria figura à ideia de inocência, lusura. Que tal?

Lá dentro
Urna? Eta palavra antiga. Na língua da antiga Roma, a dissílaba tinha o mesmo sentido de hoje. Dá nome a vaso de abertura estreita e bojo grande. O objeto tinha mil e uma utilidades e outros tantos sentidos. Aplicava-se, por exemplo, em cerimônias ligadas à morte. Daí urna funerária - recipiente onde se depositam as cinzas dos mortos ou o caixão em que o corpo vai pro túmulo. O vocábulo designava também os objetos dentro dos quais se colocavam os votos dos senadores.

Urna deu filhotes. Um deles: boca de urna. Trata-se do nome dado à área próxima ao local de votação. Por extensão, designa a propaganda feita ali no dia da eleição. Ou a pesquisa levada avante no pedaço sobre a preferência do eleitor.

Eu prometo
"Quero seu voto", avisa um candidato. "Conto com seu voto", pede outro. "Vote em mim", apela mais um. Ufa! Objeto tão desejado desperta curiosidades. Uma delas: qual a origem da criatura? Voto quer dizer promessa a Deus. Daí voto de castidade, voto de pobreza e tantos outros votos. A pessoa faz um pacto com o Senhor. Compromete-se a se privar deste ou daquele prazer. Em troca, espera alcançar esta ou aquela graça. Com o tempo, o vocábulo ganhou cor política. Virou sinônimo de sufrágio. Mas, lá longe, mantém o significado. O eleitor dá o voto ao candidato. Espera que ele cumpra a promessa feita. Mas nem sempre a expectativa se torna realidade.

Voto de Minerva
Na Grécia, Atenas era deusa da sabedoria. Ao ser adotada pelos romanos, ganhou outro nome. Virou Minerva. Num julgamento que ela presidia, houve empate na opinião dos jurados. Ela desempatou. Foi o voto de Minerva.

Leitor escreve
O velhinho, perto de seus 95 anos, estava agonizando. A família, preocupada, chamou um padre para dar as últimas assistências. O religioso lhe pediu-lhe que repetisse:

- Eu me arrependo de meus pecados e renuncio ao demônio, a Satanás.

O idoso olhou para o padre e nada disse. O padre insistiu:

- Por favor, repita comigo: "Eu me arrependo de meus pecados e renuncio ao demônio, a Satanás".

Nada. O padre perguntou:

- Por acaso o senhor está me ouvindo?

- Estou - disse o enfermo com a voz fraquinha.

- Então, por que não repete?

- Olha, seu padre... Enquanto eu não souber para onde vou, prefiro não tomar partido...

(Luiz Roberto Dias Magalhães Jr)

Recado

"Eleitor é alguém que goza do privilégio sacrossanto de votar numa pessoa escolhida por outrem."

Ambroise Bierce

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