sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Escola Estadual conseguiu aprovar 16 de seus 36 candidatos à UFRN





A Escola Estadual Winston Churchill, em Natal, está em festa. Pelo menos dezesseis dos 36 alunos que se inscreveram no vestibular da UFRN este ano foram aprovados. Eles estão na lista dos 6.209 aprovados na seleção. Isso num ano em que houve vários contratempos, como infraestrutura carente, falta de professores e o calendário interrompido em 52 dias letivos por causa da maior greve na educação do Rio Grande do Norte, entre maio e julho de 2011. A professora de química tirou licença-gestante entre maio e novembro, e não houve substituto. Também uma conquista desses rapazes e moças porque nenhum dos 340 alunos do 3º ano no Churchill assistiram sequer uma aula de física e de artes no ano letivo do ano passado, que por causa dos contratempos só vai se encerrar no dia 28 de janeiro.

Qual o segredo do bom desempenho? "O verbo é estudar. Estudar, estudar e estudar", diz Maria Eliane Silva de Carvalho Han, diretora da escola desde junho de 2010, hoje radiante de felicidade com o resultado da escola no vestibular. "É uma vitória. O terceiro ano deles foi conturbado. E eles se tornam espelho dos outros alunos, tanto os que não passaram quanto os que vão concluir em 2012 e se submeterão ao exame ano que vem". O fator pedagógico é muito importante. O método utilizado no Churchill enfoca nos concursos, vestibulares e exames. "Não posso querer que nosso aluno seja só um técnico ou se limite a ter Ensino Médio. Nosso aluno é bom, não é diferente da escola particular. Só faltam oportunidades para eles mostrarem o que têm de melhor", afirma.

Dos 1.128 estudantes do Winston Churchill, 340 são do terceiro ano. O quadro de professores tem deficiências. Os 36 que pertencem ao quadro permanente e os quatro temporários precisam se desdobrar, quando possível, para sanar cargas horárias em disciplinas com falta de recursos humanos, como artes, física, história, química e matemática. Outra deficiência para o alunado é a infraestrutura da escola. Salas de aula com projetor multimídia,sala de estudos e de vídeo bem equipadas, biblioteca com acervo maior, uma quadra de esportes. Nada disso os estudantes do Churchill têm, assim como ocorre à grande maioria das escolas estaduais no RN. Para se ter uma ideia das deficiências na biblioteca, algumas obras de literatura cobradas no vestibular são compradas pela direção e equipe pedagógica.

Para minimizar os problemas, a Secretaria Estadual de Educação (Seec) pretende fazer uma reforma no Winston Churchill ainda no primeiro semestre desse ano. E também em 2012 o Governo comprou livros para todas as dez disciplinas do currículo obrigatório no Ensino Médio. "Quanto mais condições nós tivermos, com certeza aprovaremos ainda mais. Isso vai acontecer em toda escola pública que receber mais investimentos", destaca.

Preparação e expectativas

Apesar dos contratempos em 2011, Abner Moabe Aquino do Nascimento, aprovado em jornalismo, disse que fatores como a greve não atrapalharam sua preparação, inteiramente dedicada aos livros. O estudante, por sinal, éfavorável aos movimentos grevistas. "Muita gente fala mal da greve, dizendo que professor ganha pouco. Eu sou a favor da greve. O professor tem que lutar pelos seus direitos. É ele o responsável pela formação de todos os profissionais", revela.

Outro aprovado, Elvis Vinícius Morais Bessa, também foi prejudicado porque as aulas de física e química eram indispensáveis num vestibular como o que ele foi aprovado, o de Medicina. Para reduzir o prejuízo ele compensou com uma bolsa que ganhou de um cursinho particular da capital. "Hoje quase ninguém quer ser professor, por isso a concorrência das licenciaturas é baixa. Só o que vemos aqui na escola são professores desmotivados, colegas que só vêm para a escola por causa da merenda, entre outros problemas. Só que nisso tudo, o que mais valia era o incentivo que eu recebi dos professores e dos funcionários da escola", afirma Elvis.

A preparação de Talisson Daloni Lima dos Santos, aprovado em Engenharia Têxtil, não incluiu apenas a dedicação aos livros e apostilas. Para minimizar as dificuldades financeiras da família, um ano antes do vestibular, ele precisou trabalhar como aprendiz numa loja do centro da cidade. "Guardava dinheiro para pagar o cursinho. Sabia que pai não teria condições de pagar todo mês, juntei um pouco para pagá-lo. Esse planejamento foi fundamental".

Os três amigos se mostram otimistas com o início das aulas em fevereiro e julho. "É uma universidade conceituada. Espero gostar do curso", afirma Talisson. Essa semana houve o primeiro contato com a UFRN após a aprovação, no momento do cadastramento como alunos. "Quero estudar numa universidade de primeiro mundo. Sei que toda escola pública tem problemas, mas o investimento é altíssimo e a UFRN é bem administrada", opina Elvis. "A expectativa é a melhor possível. Apesar de ser mantida pelo governo federal, parece que o dinheiro chega mais rápido do que o do Governo aqui no Estado", compara Abner, futuro jornalista.
 

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