quarta-feira, 14 de julho de 2010

5 - A importância da leitura

A LEITURA EXTRACLASSE: NECESSIDADE E POSSIBILIDADES

Para tratarmos da leitura a ser feita fora da escola e fora da área específica de língua portuguesa e literatura brasileira, é interessante partirmos de uma caracterização da pedagogia tradicional da leitura. Nosso propósito, com isso, é situar historicamente a tão discutida crise de leitura. Em seguida, tentaremos mostrar por quais caminhos foi sendo ampliada a concepção de leitura e, por extensão, a sua prática no âmbito da escola. Finalmente, elencaremos alguns princípios norteadores do ensino-aprendizagem da leitura, tal como ela se coloca contemporaneamente.

É possível afirmarmos que o ato de ler, no modelo tradicional de escola, caracteriza-se, principalmente, pelo seu caráter reprodutor. Considera-se bom leitor aquele aluno que consegue devolver ao professor a palavra do trabalho didático. A avaliação da compreensão de leitura tem-se limitado à capacidade de captar informações explícitas na superfície do texto. Isso se deve, certamente, às concepções de língua, texto e leitura subjacentes à prática pedagógica. Assim, concebe-se a língua como um código transparente e exterior ao indivíduo, o texto como uma mera soma de palavras e frases, e a leitura como a busca/confirmação de um sentido preestabelecido.

A leitura é sistematicamente, submetida às rotinas padronizadas dentro da escola e termina por perder seu sentido mais profundo. Em última instância, acaba sendo um fator decisivo e determinante do fracasso escolar. Do ponto de vista dos objetos de leitura, essas rotinas descaracterizam o trabalho, a revista e os demais materiais que circulam na vida social. Cortado, adaptado, Mimeografado, o texto, enquanto objeto sociocultural se transfigura, porque se "pedagogiza". Bordini e Aguiar (1993) referem-se à escolarização do texto, mostrando que o ato de ler - individual em sua essência - transforma-se numa comunicação interpessoal, condicionada pela falta de trabalhos para todos e pela concentração de muitos sujeitos num mesmo espaço físico. Com relação aos materiais, afirmam as autoras:

A destruição da leitura e do leitor já foi objeto de uma importante investigação feita por Silva (1985). A autora mostra o controle exercido pela escola sobre o que e como se deve ler. Além disso, historicamente a leitura tem sido usada como pretexto para atividades estritamente mecânicas. É o caso da uma prática ainda hoje bastante presente na sala de aula: ler para imitar o autor.

O uso do texto como pretexto foi discutido por Lajolo (1985). Nesse artigo, Lajolo enumerou uma série de práticas pedagógicas em torno da leitura que foge ao seu sentido intrínseco: ler para imitar recursos estilísticos, ler para fazer análise sintática, ler para procurar palavras desconhecidas no dicionário, ler para aprender modelos de conduta moral... Essa última, aliás, tem sido a marca da entrada da literatura na escola, sobretudo a infantil - forjam-se textos para que as crianças assimilem padrões de conduta adequada à ordem social vigente: obediência, submissão, docilidade e outros. A raiz desse fenômeno, detectável em cartilhas e trabalhos didáticos infantis, está na pedagogia jesuítica, em que a leitura era utilizada com fins claramente evangelizadores.

Foi também Lajolo (1985) quem afirmou ser a poesia "uma frágil vítima dos manuais escolares". A autora encontrou, num trabalho didático, o poema O vestido de Laura, de Cecília Meireles. Lamentavelmente, a exploração didática do poema se limitava a questões exteriores ao texto enquanto proposição poética. Assim, havia perguntas do tipo: Quantos babados tem o vestido de Laura?. Ou, ainda, certas perguntas exigiam que o aluno completasse lacunas com palavras retiradas do texto. Tais procedimentos anulavam - ou não deixavam ver - a reflexão existencial subjacente ao poema, que, na verdade, tematiza a efemeridade da vida.

Em termos do texto literário propriamente dito, seu tratamento em nível de primeiro grau se reduz a fragmentos de trabalhos, com os problemas já apontados anteriormente, ou aos chamados paradidáticos, os quais constituem hoje um vigoroso mercado. Editoras e editores definem muitos modos de operar e avaliar a leitura na escola e fora dela. Roteiros e fichas, divulgados em catálogos atraentes, encobrem as condições reais de trabalho e de leitura do professor. Ao nível do segundo grau, a literatura é trabalhada, centralmente, através de biografias de autores, estudo das escolas literárias e memorização de listas de obras. Não se explora a especificidade do texto literário, nem se lê a obra propriamente dita. A pressa do mundo industrializado e massificado, a pressão do vestibular, o caráter indefinido do segundo grau enquanto modalidade de ensino, tudo isso vai fazendo o aluno ler pedaços e resumos de trabalhos, desvalorizar a literatura e abandonar o trabalho (Lajolo, 1985).

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/3046/1/A-Importancia-Da-Leitura-Nas-Series-Iniciais/pagina1.html#ixzz0thNUzgl3

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