segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A história é desconstruída por falta de conhecimento dos alunos.

A história é desconstruída por falta de conhecimento dos alunos.

“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas. De um povo heróico o brado retumbante. E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da Pátria nesse instante.”

Os versos poéticos do Hino Nacional Brasileiro - escrito pelo jornalista Joaquim Osório Duque Estrada, para ilustrar a ruptura do Brasil com Portugal - parecem não ecoar na memória do brasileiro, sobretudo dos mais jovens. Exceto pelo desfile cívico e palestras realizadas em escolas durante a Semana da Pátria, a impressão é que se o brasileiro ouviu ‘O Grito do Ipiranga’, já esqueceu. Assim como a outros acontecimentos da história do país.

Para testar o nível de conhecimento sobre o assunto, a TRIBUNA DO NORTE aplicou entre estudantes de duas turmas do 9º ano do ensino fundamental, de escolas das redes pública e privada, um questionário sobre história do Brasil. Foram sete questões feitas aos adolescentes, com idades entre 12 e 13 anos, intencionalmente, a cerca de datas, símbolos e personagens que marcaram a trajetória desde a descoberta à democracia do país. (Teste seus conhecimentos com o questionário aplicado nas escolas, na pág. 3 ). O resultado revela rasa noção sobre fatos históricos e uma necessidade urgente de se rever o modelo de ensino, no intuito de congregar a análise contextualizada com os factuais.

Nenhum dos estudantes soube responder quem era o patrono da Independência, apesar dos livros apresentarem José Bonifácio de Andrada e Silva como autor da carta agitadora, que persuadiu Dom Pedro da impossibilidade de entendimento com a Corte Portuguesa. O título de patrono foi atribuído a Dom Pedro entre os estudantes da rede privada, e ao marechal Deodoro da Fonseca, entre os da escola pública. Não houve acertos sobre o ano de início e fim do governo militar no Brasil. Época que não passaria sem riqueza de detalhes e alguma comoção, se questionada ao público acima dos 30 anos.

Foi comum trocarem o ano da Proclamação da República (1889), com o ano da promulgação da Constituição Federal (1988) ou ainda fundir o nome de dois presidentes - criando um Fernando Henrique Collor - para aquele afastado do governo por impeachment.

Mas a justificativa alegada pelas turmas é respaldada pelos professores e coordenadores pedagógicos. O modelo atual de ensino não aborda a fixação de datas e ícones. Inclusive, há muito não são mais cobrados em exames de vestibular ou no Enem, o que desobriga o aprendizado. “Algumas coisas a gente decora só para a prova. Os professores mesmo dizem que não é preciso gravar as datas, que já vêm na pergunta”, observa o estudante Pedro Henrique Braga de Moraes. Não há como fixar, acrescenta Sayonara Santos, também aluna do 9º ano, se o conteúdo é restrito a determinadas séries. “Acho que história do Brasil, geral ou do RN, deveria ser dada desde os primeiros anos até chegar na faculdade”.

Desconhecer símbolos nacionais, como o Hino da Independência, não acarreta prejuízos para formação pessoal e intelectual na opinião dos alunos. “Não é usado. Diga um evento na escola ou fora dela em que se canta este hino? Eu nunca ouvi. Diferente do (hino) nacional que é cantado em jogos de futebol”, conclui Marcos Leon Camilo Valdivino, 13, que reconhece que é preciso aprender mais sobre história da nação. “Não tem muito livro sobre história do Brasil. A gente vê naquele ano e pronto”, acrescenta Jéssica Nóbrega, 15 anos.

Resultado era o esperado por professores

Apresentado a alguns educadores, o resultado do questionário não surpreendeu. Para o coordenador pedagógico e professor de história Gilson Barbosa, o estilo – factual - não se encaixa na metodologia de ensino implantada com a reforma pós-regime militar, quando a antiga disciplina de Moral e Cívica foi abolida das instituições.

“Não é mais valorizada a questão da data, do personagem. É dado, claro. Mas o ensino da História do Brasil é feito de modo contextualizado, buscando a interpretação dos fatos”. Mas, ele opina que o conteúdo da antiga grade, que obrigava estudantes ao hasteamento da bandeira e cantar o hino nacional às quintas-feiras, conhecer brasões e demais ícones da história, deveria ter sido melhor aproveitada na reforma pedagógica.

O conteúdo para turmas de 9º ano, explica o professor José Gomes Gonzaga, aborda questões de conflitos e economia da história contemporânea e geral sempre fazendo comparativos com a história do país. “O método atual abandonou o vício de decorar e levou a a pensar. O esquecimento é falta de interesse dos alunos”, disse.

Para Gleydson José Bento Lima, assessor técnico pedagógico da Secretaria Municipal de Educação, os professores trabalham dentro dos parâmetros curriculares nacionais que prima por uma visão interpretativa dos acontecimentos, não só a data. O plano pedagógico contempla os dois lados, mas o trabalho em sala de aula varia de acordo com o professor. Como não há obrigatoriedade de se promover momentos cívicos aos moldes antigos, fica a critério de cada instituição.

“O estilo tradicional apontava para os heróis e mitos da história, até pelo contexto nacionalista da época da ditadura. Nesta versão mais moderna, se busca a explicação. Não fixar estes dados não mina a capacidade de análise”, enfatiza.

“Cidadãos brasileiros sem identidade nacional”

Formar cidadãos sem identidade pessoal e memória cultural. É este o risco apontado pelo professor de história Fábio Moreira, com modelo atual de ensino da história do Brasil. Ao passo que o esquema pegunta-resposta, do tipo “Quem descobriu o Brasil? Pedro Álvares Cabral”, caiu de moda.

A abordagem atual dá mais subsídios aos alunos para avaliar fatos, como perceber que o 7 de Setembro de 1822 foi o ápice de um acontecimento que integra o processo de crise do antigo sistema colonial, iniciado com as revoltas de emancipação no final do século XVIII, como a Inconfidência Mineira (1789).

“O prejuízo de focar o ensino mais na formação crítica de cidadãos, em detrimento da memória cultural, é a perda da identidade enquanto pessoa e brasileiro”, frisa o professor. Hoje é mais fácil um estudante conhecer bandeira, hino e datas dos Estados Unidos – acrescenta – trabalhados nos veículos de massa.

Para a diretora do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), Claudia Santa Rosa, privilegiar mais um aspecto que outro do mesmo evento ocorre por um “desvio pedagógico” para se manter um estilo mais contemporâneo. “Para dar condições de análise, é preciso que o estudante domine o quando, quem e onde aconteceu, não só o quê, como e porquê. Para não deixar lacunas no aprendizado que se leva para a vida”. Ao renegar as amarras de um período de ditadura militar, não se poderia ter abandonado de todo o modelo.

Para ela, é responsabilidade da escola direcionar e definir a forma de trabalhar a educação. A pedagoga e vice-diretora da rede pública, Jailde Oliveira, alerta para urgente mudança em resgate da história. “A escola continua sem dar capacidade dos alunos interpretar e escrever”.

Alunos não sabem nome do patrono da Independência

Esta semana a TRIBUNA DO NORTE contatou algumas escolas públicas e privadas para aplicar um questionário com o objetivo de testar os conhecimentos dos alunos do ensino fundamental sobre a história do Brasil. Apenas duas escolas concordaram em aplicar nosso questionário em turmas do 9º ano, com o compromisso do jornal de não identificá-las nem muito menos os alunos. Acordo feito, o jornal aplicou um questionário com sete perguntas, todas subjetivas. As questões foram apresentadas aos adolescentes, com idades entre 12 e 13 anos, intencionalmente, a cerca de datas, símbolos e personagens que marcaram a trajetória desde a descoberta à democracia do país.

Nenhum dos estudantes soube responder quem era o patrono da Independência, apesar dos livros apresentarem José Bonifácio de Andrada e Silva como autor da carta agitadora, que persuadiu Dom Pedro da impossibilidade de entendimento com a Corte Portuguesa. O título de patrono foi atribuído a Dom Pedro entre os estudantes da rede privada, e ao marechal Deodoro da Fonseca, entre os da escola pública. Não houve acertos sobre o ano de início e fim do governo militar no Brasil. Época que não passaria sem riqueza de detalhes e alguma comoção, se questionada ao público acima dos 30 anos.

Os alunos fundiram o nome de dois presidentes - criando um Fernando Henrique Collor - para aquele afastado do governo por impeachment.

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