domingo, 4 de setembro de 2011

A grande jogada da Copa do Mundo fora dos gramados


Construído no início dos anos 1970 e palco de grandes jogos, o estádio Machadão será demolido para dar lugar ao Arena das Dunas
Construído no início dos anos 1970 e palco de grandes jogos, o estádio Machadão será demolido para dar lugar ao Arena das Dunas
Para os críticos, a Copa do Mundo é um luxo que Natal não poderia nem pensar. Afinal,  como explicar os gastos bilionários num estádio de futebol, enquanto os recursos para Saúde, Educação e Segurança Pública são cada vez mais escassos? Para os defensores do projeto, será uma oportunidade ímpar para melhorar a infraestrutura da cidade. Os mais otimistas dizem que será um divisor de águas.


Longe da polêmica, a indústria da construção civil se antecipa. Para ela, 2014 já chegou. A prova está aí para qualquer um ver: os tapumes brancos que cercam toda a área do Estádio Machadão e do Ginásio Poliesportivo Machadinho, além de parte do Centro Administrativo do governo do Estado. Eles marcam o início das obras do estádio conhecido popularmente de Arena das Dunas e que está sendo erguido para receber jogos da Copa. O estádio não é a única ação prevista para este ano.

Há também o Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante, que depois de quase de 10 anos de negociação, parece finalmente decolar para a realidade do município pertencente à Grande Natal. Também na região metropolitana da capital, inclusive, deve começar ainda este ano o grande projeto de saneamento básico de Parnamirim. Uma obra orçada em cerca de R$ 140 milhões e que, em 2011, está saindo do papel e virando benefício para milhares de habitantes de uma das cidades que mais cresce no Estado.

Somando o valor investido em Parnamirim com as obras de saneamento básico, aos R$ 400 milhões do novo estádio da Copa do Mundo, aos R$ 390 milhões das obras de mobilidade urbana em Natal e, ainda, ao aproximado R$ 1 bilhão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, as cifras se aproximam dos R$ 2 bilhões.

No Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, já foram investidos cerca de R$ 150 milhões e a previsão é que o governo federal arque com mais R$ 250 milhões com a conclusão de pistas de pouso e a construção da torre de controle. A iniciativa privada deve ser responsável por mais que dobrar esse valor: injetará mais R$ 650 milhões para erguer o terminal de passageiros e a área destinada à exploração comercial.

A administração do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante ficará a cargo do Consórcio Inframérica, que a arrematou por R$ 170 milhões. Com esse valor, o

ágio a ser pago é 228% sobre o valor mínimo estipulado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). "Acreditamos que o mercado para este aeroporto no Rio Grande do Norte é muito bom. O Estado está muito próximo da Europa. Pode acontecer um hub de cargas da Europa para o RN e sabemos que o aeroporto tem capacidade para receber aeronaves capazes de cruzar o Atlântico", avaliou José Antunes Sobrinho, vice-presidente da Engevix Engenharia, empresa integrante do consórcio junto com a argentina Corporación América.

O investimento, segundo a governadora do RN, Rosalba Ciarline, é "muito importante para nosso Estado". Ela, assim como o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiern), Flávio Azevedo, foi um dos presentes no leilão ocorrido em São Paulo.

"O Rio Grande do Norte passa a ser um, antes do aeroporto, e outro, depois do aeroporto. Nós perdemos num passado recente a refinaria, mas esta obra é mais importante que a refinaria, em termos de emprego, renda e desenvolvimento. O Aeroporto de São Gonçalo do Amarante será o mais importante do Brasil", afirma o deputado federal Henrique Alves, um dos responsáveis pela mobilização da bancada potiguar na Câmara, em favor do leilão do aeroporto.

Um dos motivos que fez o Aeroporto de São Gonçalo do Amarante ser tão disputado no leilão ocorrido em São Paulo, foi o fato de Natal está na Copa do Mundo de 2014. E, para que o Mundial realmente ocorra na capital, é fundamental a construção do estádio. Este, porém, ainda é o principal motivo de desconfiança do potiguar ou, pelo menos, era. Afinal, em agosto, começaram as obras da Arena das Dunas.

A construção, inicialmente, se limita ao trabalho de terraplanagem do terreno. Quando a ordem para a demolição do Machadão for assinada, o estádio será demolido mecanicamente e parte dele ainda poderá ser reciclada e reutilizada na Arena.

Para quem ainda desconfia e acha que a implosão seria uma melhor alternativa por ser mais célere, o secretário Extraordinário para Assuntos Relativos à Copa no RN (Secopa), Demétrio Torres, destaca que o Machadinho, por exemplo, deve ir ao chão em menos de 30 dias.

Mesmo enquanto o estádio e o ginásio não estiverem totalmente demolidos, as obras da nova Arena já seguem em bom ritmo, sem prejuízos. Isso porque apenas uma parte dela ficará localizada onde estão agora os dois. "Sabemos que a demolição do Machadão é emblemática para o marco do início do processo de construção da Arena das Dunas, mas não teremos a necessidade de colocar aquela estrutura abaixo logo. Portanto, o trabalho irá sendo realizado de acordo com a necessidade", explica Demétrio Torres.

Mobilidade urbana: o legado da Copa

O novo estádio construído na Zona Leste de Natal e o Aeroporto de São Gonçalo do Amarante devem ser as duas grandes obras pensadas para a Copa do Mundo em Natal. Entre as duas, ou melhor, ligando uma a outra, está uma série de reformulações no trânsito de Natal. São as chamadas obras de mobilidade urbana que prometem interligar de forma decisiva a região metropolitana da capital.

"As obras de mobilidade urbana serão o grande legado da Copa do Mundo em Natal, sem dúvida. Ela vai ser determinante para unir São Gonçalo do Amarante à Zona Leste, onde ficará o estádio, passando pela Zona Norte e chegando, inclusive, até Ponta Negra. Vai valorizar todas as áreas de Natal", prevê o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon/RN), Arnaldo Gaspar Júnior.

Para aqueles que olham com receio o investimento feito em obras de construção de estádio e aeroporto e melhoria e ampliação das ruas, Gaspar afirma: "Não adianta ser contra essas obras, porque elas não estão tomando o lugar de hospitais ou escolas. O governo federal não chegou para o Estado e perguntou: vocês querem recursos para a educação ou para a Copa do Mundo?"

Em relação às obras de mobilidade urbana, representantes das empresas de transporte urbano das 12 cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014 se reuniram em São Paulo, na última semana de agosto, para discutir projetos estruturantes de mobilidade urbana. Entre os temas abordados, os principais foram as parcerias público-privadas e o sistema de transporte conhecido como BRT (Bus Rapid Transit), uma espécie de corredor exclusivo de ônibus criado em Curitiba. Cerca de 80% dos projetos das cidades-sedes já contemplaram sistemas BRT. Natal, porém, não está incluída.

Para Otávio Vieira Cunha, a PPP é uma resposta à falta de capacidade de investimento e endividamento das cidades. "Se o governo não tem caixa para investir e não pode contrair dívidas, uma saída possível é fazer a parceria. Dessa forma, o setor privado investe e opera o sistema por um determinado período de tempo", explica Otávio.

O prazo dado pelo governo federal para o início e a conclusão das obras de mobilidade é, respectivamente, o fim de 2011 e o fim de 2013. "Acredito ser possível modelar uma PPP até o fim do ano. Com certeza é tempo suficiente", diz, acrescentando que não há grandes preocupações com o prazo de nenhuma das cidades-sedes por parte do empresariado: "O que mais demora, principalmente quando se fala de BRT, são as desapropriações".

Apesar das obras de mobilidade urbana serem fundamentais para a integração da cidade, elas não podem ser encaradas como únicas saídas para resolver todos os problemas no trânsito natalense. "O problema dos congestionamentos é resultado do fluxo de carros. Melhorando as vias, o problema é solucionado hoje, mas no futuro pode aparecer novamente. Por isso, a saída é investir em transporte público de qualidade, para fazer as pessoas escolherem menos o individual e diminuir o número de carros nas ruas", comenta Arnaldo Gaspar.

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