domingo, 17 de julho de 2011

Após contato com animais, funcionários do Ibama contrairam leptospirose

Os oitos funcionários do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama/RN, que têm contato direto com os animais abrigados no órgão, estão infectados com leptospirose e alguns com toxoplasmose. Três exames já foram realizados nos servidores, desde o início do ano, e a cada amostra o número de acometidos pela doença aumenta. O Ibama espera agora o resultado das amostras que foram enviadas para análise na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para confirmar a veracidade dos casos na instituição. A Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) interditou a área dos animais no mês passado, mas, através de uma liminar expedida pela Justiça Federal, o órgão conseguiu a reabertura da área e que os funcionários continuassem trabalhando.

Foi por acaso que se descobriu a contaminação dos servidores. O trabalho de pesquisa da professora Débora Rochelly, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, que tinha como foco avaliar as condições de saúde dos primatas em cativeiros, recolheu amostras de cinco Cetas de diferentes estados do Brasil - entre eles o Ibama/RN- e dois zoológicos. Depois a professora decidiu estender a pesquisa aos humanos que tomavam conta desse animais.

De acordo com a responsável pelo Cetas do RN, Evelise Costa, que participou da apresentação do trabalho da professora, o percentual de primatas infectados com toxoplasmose foi de 89% e com leptospirose, 49%, contando com todos os sete locais pesquisados. No caso do Ibama/RN, foi apontado um servidor com leptospirose na fase aguda e quatro com toxoplasmose IGG (pode ter sido infectado ou ter contato com um infectado e o organismo desenvolver defesa).

"O resultado coincidiu com um aumento no número de morte de animais", lembrou Evelise.

A situação foi comunicada ao Ibama, novos exames foram realizados pelo Laboratório Central do Estado do Rio Grande do Norte (Lacen) e o resultado se repetiu para todos os casos. O laboratório fez mais uma vez o exame e o número de casos aumentou. De um servidor com leptospirose em fase aguda passou para cinco, e em nova coleta o número chegou aos oito. Todos os funcionários do Cetas estão infectados com leptospirose e cinco com toxoplasmose.

Após o último resultado a Vigilância em Saúde da Sesap interditou o Cetas. Segundo o chefe de gabinete do Ibama, Luiz Bonilha, o órgão conseguiu uma liminar na Justiça Federal para reabrir o setor e os funcionários estão trabalhando. Ele informou que não tem data para o exame da Fiocruz chegar. O Ibama não está podendo receber mais animais, embora permanece cuidando dos que estão abrigados na sede.

Evelise, que está entre as pessoas infectadas, disse que o Ibama recomendou procurar um médico particular até o resultado sair. Apesar da Sesap ter disponibilizado um infectologista, ele só poderia receber uma pessoa por semana, o que foi inviável. Ela afirmou que ningúem está apresentando sintomas. Seria esse o motivo de se repetir tanto os exames.



Instituto tomou medidas paliativas

Segundo o chefe de gabinete do Ibama, Luiz Bonilha, é normal que quem trabalhe direto com animais sofra algum tipo de contaminação. " Está sendo feita uma série de avaliações e estamos esperando a o resultado da Fiocruz", declarou. Ele reafirmou que a ausência de sintomas tem chamado atenção da Vigilância em Saúde e que os demais exames podem ser um falso positivo.

O chefe de gabinete salientou que não é possível apontar os macacos como transmissores da doença em razão dos muitos animais na área. Como medida paliativa, o órgão cercou a Cetas e fez modificações nas ações de limpeza do local. Membros da sede do Ibama estiveram no estado fazendo um levantamento da situação junto com servidores de vários setores da Sesap. Conforme Evelise, o relatório deve estar sendo concluído nos próximos dias e a conclusão deve gerar modificações nos Ibamas de todo Brasil.



Direção procura lugar para abrigar animais

Somado ao fato de não receber animais por risco de contaminação, o Ibama também está buscando propriedades para soltar os animais silvestres já recuperados. O chefe da fiscalização, Alexandre Rochinski, disse que somente em 2011 foram apreendidos 1.500 e cerca de 1.000 ainda permanecem na sede. A maior parte é de aves, seguidas de répteis e mamíferos, quase todos apreendidos em operações de fiscalização do órgão ou pelas denúncias da linha verde (0800-618080). O cadastramento das áreas de soltura é o primeiro passo da campanha "Pacto pela Fauna". As áreas precisam ter boa cobertura vegetal como matas e bosques e seus proprietários devem comprometer-se a não permitir caça, captura ou molestamento dos animais soltos em seus domínios.

O estado só tem dois parques com capacidade para soltura e não serve para todo tipo de animal. Alexandre ressalta que os animais chegam muito domésticados ou debilitados, e isso também complica a adaptação deles em outro habitat. Muitos ficam no Ibama até morrer por falta de locais para soltura. Antes de liberar os animais para natureza também são necessários exames clínicos realizados somente em outros estados, e nem sempre o órgão tem verba para isso.

Quem tiver interesse em cadastrar fazendas ou granjas para a soltura de animais deve enviar um e-mail para ascom.rn@ibama.gov.br. Na mensagem deve citar nome completo, telefone, endereço da propriedade e declarar o interesse em receber animais para soltura. Fotos digitais da propriedade em baixa resolução podem ser anexadas. Após o recebimento da mensagem o Ibama entrará em contato para maiores esclarecimentos. O cadastramento é gratuito. Ao final do processo, proprietários e funcionários das áreas escolhidas vão receber treinamento no Ibama sobre as práticas corretas de conservação de fauna e da flora.

Leptospirose

A leptospirose é uma doença infecciosa febril, aguda, causada pela bactéria Leptospira interrogans. O ser humano pode ser infectado através da pele e de mucosas (olhos, nariz, boca) ou pela ingestão de água e alimentos contaminados. A presença de pequenos ferimentos na pele facilita a penetração. Os principais sintomas são febre alta de início súbito, sensação de mal estar, dor de cabeça constante e acentuada, dor muscular intensa, cansaço e calafrios. Após dois ou três dias de aparente melhora, os sintomas podem ressurgir. Nesta fase é comum o aparecimento manchas avermelhadas no corpo e pode ocorrer meningite, que em geral tem boa evolução. A maioria das pessoas melhora em quatro a sete dias.

Toxoplasmose

A toxoplasmose pode ser adquirida pela ingestão de água e/ou alimentos contaminados com os oocistos esporulados, presentes nas fezes de gatos e outros felídeos, por carnes cruas ou mal passadas, principalmente de porco e de carneiro, que abriguem os cistos do protozoário toxoplasma gondi. A doença não se transmite de uma pessoa para outra apenas nos casos de transfusão sanguínea e transplante de órgãos de pessoas infectadas. Seu diagnóstico é feito levando em conta exames clínicos e exames laboratoriais de sangue, onde serão pesquisadas imunoglobulinas como a IgM e IgG. Pessoas saudáveis infectadas geralmente não apresentam sintomas porque seu sistema imunológico geralmente impede o parasita de causar doença. Quando a doença ocorre, geralmente apresenta sintomas de gripe que duram por várias semanas e depois vão embora. Porém, o parasita ainda fica no organismo em estado inativo, e pode ser reativado se a pessoa tiver enfraquecimento do sistema imunológico.

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