sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Kadafi desafia rebeldes e Otan


O governante líbio Muamar Kadafi, em mensagem de voz divulgada na noite de ontem pelo horário local, apelou a seus partidários que marchem aos milhões e continuem a lutar contra os insurgentes e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "Nós derrotaremos vocês com a jihad (guerra santa)", disse um desafiador Kadafi, em seu terceiro discurso desde que caiu na clandestinidade na terça-feira. Ele pediu aos seus seguidores que "marchem aos milhões para Tripoli para expulsar os infiéis, cruzados, ratos e traidores". Kadafi fez o apelo algumas horas após os insurgentes em Tripoli anunciarem que tinham cercado prédios onde acreditavam que o governante e seus filhos estavam entrincheirados com partidários. Mais tarde, isso provou ter sido um boato. Os combates em Tripoli se concentraram no bairro de Abu Salim, com mortos pelas ruas. Alguns dos mortos pareciam ter sido executados.
Enquanto luta se estende por Tripoli, insurgentes tentam localizar esconderijo de Kadafi. Presidente líbio usa rádio para convocar resistência
Enquanto luta se estende por Tripoli, insurgentes tentam localizar esconderijo de Kadafi. Presidente líbio usa rádio para convocar resistência


















 O líder do Conselho Nacional de Transição dos rebeldes líbios em Benghazi, Mustafá Abdel Jalil, disse ontem que 20 mil pessoas já foram mortas na guerra civil líbia, que estourou em fevereiro deste ano.

Kadafi disse que a Líbia pertence ao seu povo. "Ela não pertence à França, ou a Sarkozy ou à Itália. Destruam o inimigo, lutem como seus antepassados lutaram contra os italianos. Não tenham medo deles, tenham medo de Alá (Deus)", incitou o governante.

A breve mensagem de voz foi levada ao ar por duas emissoras de televisão pró-Kadafi, a Al-Urubah da Líbia e a Al Rai da Síria. O apelo do cambaleante líder líbio é feito no momento em que intensos combates irromperam na capital Tripoli, enquanto os insurgentes tentam reforçar seu controle sobre o país magrebino rico em petróleo, informa o Wall Street Journal.

"Não tenham medo deles (da Otan e dos rebeldes)...Os rebeldes são poucos e vocês são muitos", disse Kadafi. "Lutem contra eles de rua a rua, em cada beco... A Otan não poderá bombardear vocês porque não poderá bombardear também os rebeldes", disse Kadafi. "Não temam os bombardeios da Otan. São apenas bombas que fazem barulho", disse.

Mas cedo, o porta-voz de Kadafi, Moussa Ibrahim, disse que o governante esta seguro em seu esconderijo e na liderança da luta contra os rebeldes. Ibrahim disse em chamada telefônica à Associated Press que o governante está na Líbia e que seu moral está alto. Kadafi está "na realidade liderando a batalha pela nossa liberdade e independência", disse Ibrahim, que foi reconhecido por sua voz, disse a AP.

Ibrahim não disse onde o governante está escondido, reportou a AP. Ibrahim, que apareceu diariamente em coletivas de imprensa televisionadas, desde o começo da rebelião há seis meses, afirmou que está se mudando constantemente na Líbia.

"Todo mundo na família de Kadafi está bem" disse Ibrahim, acrescentando que os principais assessores militares e políticos permanecem com Kadafi. Ele disse que o governante de 69 anos será capaz de continuar a resistência por "semanas, meses e anos".

Um comandante do exército rebelde disse, logo após o discurso de Kadafi, que as tribos líbias rejeitarão o apelo de Kadafi. "O pedido de Kadafi para que as tribos lutem será escutado por ouvidos surdos", disse o coronel Ahmed Bani. Embora os combates tenham se intensificado ontem, Ahmed Bani disse que ele estão "nos últimos estágios".

ONU vai liberar ajuda emergencial

Nova York (AE) - Os Estados Unidos e a África do Sul chegaram a um acordo para que o Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) libere US$ 1,5 bilhão em ativos líbios congelados para ajuda emergencial à Líbia, disseram diplomatas. O acordo de última hora significa que os EUA não pressionarão por uma votação no Conselho para forçar a liberação do dinheiro. "Existe um acordo, por isso não acontecerá uma votação e o dinheiro será desbloqueado", disse um diplomata próximo às negociações à agência France Presse (AFP).

A África do Sul bloqueou a tentativa de liberar o dinheiro por mais de duas semanas, porque disse que canalizar os recursos ao governo dos rebeldes líbios poderia significar o reconhecimento do Conselho Nacional de Transição em Benghazi como legítimo governo do país do Magreb.

Nem a África do Sul nem a União Africana (UA) reconheceram até agora o governo dos rebeldes líbios, cujos partidários tomaram grande parte da capital Tripoli enquanto tentam derrubar definitivamente o governante Muamar Kadafi. Os US$ 1,5 bilhão congelados nos EUA são administrados pelo governo americano, o qual deseja enviar US$ 500 milhões a grupos humanitários internacionais, US$ 500 milhões ao Conselho Nacional de Transição para pagar salários e serviços essenciais e US$ 500 milhões a um fundo internacional para a Líbia, o qual pagará por combustíveis e outros itens emergenciais.

Brasil não cogita asilo para Kadafi

Buenos Aires - O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, negou  especulações de que o governo brasileiro estaria discutindo a possibilidade de dar asilo ao líder líbio Muamar Kadafi. "Não está em consideração receber Kadafi no Brasil", disse ontem, em entrevista coletiva concedida em Buenos Aires, onde participou de uma reunião extraordinária de chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Patriota afirmou que "não nenhuma discussão" sobre o destino de Kadafi, nem de que ele poderia pedir asilo ao Brasil. "Este assunto não está sendo tratado", reiterou.

Patriota relatou que os chanceleres da Unasul discutiram sobre a situação da Líbia, embora não tenham emitido nota formal de reconhecimento do governo de transição naquele país. "Houve um certo debate sobre o Conselho Nacional de Transição (CNT) da Líbia, e há um reconhecimento de que é um interlocutor válido", afirmou o chanceler brasileiro. Segundo ele, "houve convergência de que a questão de um reconhecimento ou não de um governo será colocada e adquirirá, digamos assim, uma aceitabilidade multilateral, no momento do exame do comitê de credenciais da assembleia geral da ONU, para ver quem senta na bancada da Líbia".

Ele disse que "não há discrepância grande" entre os países da região sobre a destituição de Kadafi, embora o presidente da Venezuela já tenha se manifestado contrário ao fim do regime. "Há atitude de que o comitê de credenciais das Nações Unidas se manifestando sobre o reconhecimento, essa questão será equacionada", afirmou Patriota.

Neste sentido, o diplomata justificou a falta de um posicionamento oficial do governo brasileiro em relação ao novo governo líbio, mas criticou o regime de governo de Kadafi, com o qual o Brasil manteve boas relações no passado.

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